Com a desistência de nós mesmos conquistamos a paz, a beleza e o consolo que o mundo desconhece. É o maior e mais premente desafio que é proposto ao desejoso de Deus: o abandono de si mesmo total e incondicional, interior e exterior, responsavelmente, sem saber o que virá a seguir. É certo que desejamos o melhor, com fé, mas não o podemos prever.
O desapego precisa ser irrestrito, sem exigir garantias, estendendo uma mão e escondendo a outra. Quando o rio chega ao mar não impõe condições, entrega-se simplesmente. O homem não pode e não consegue saber e sentir o que é o Bem pela mente condicionada. Tem de a superar.
Enquanto persistir com o eu falso mantendo-o à distância ou procurando controlá-lo, permanece o conflito individual e a neurose social. Só pela observação imparcial calma e intuitiva do eu chegará à visão de que ele e o eu são o mesmo, isto é, o observador é a coisa vista, e, por auto-indução, cria o que detesta e do qual se quer livrar. É como se um ladrão guardasse a porta da casa que pretende roubar! O choque de ver isso, milagrosamente o liberta, e Deus surge para o preencher e não antes.
«Deus só se manifesta na ausência de seu ego.» (Hermógenes)
«Deverás saber que, nesta vida, nunca uma pessoa se abandonou assim tanto, que não tenha achado que se devia abandonar ainda mais.» (Mestre Eckhart)
«Aquele que renunciou a si mesmo deve ser destacado das formas criadas, formado com Cristo Cósmico e transformado na divindade.» (Henri Suso)
«Que tipo de Amado é Ele?
Enquanto prevalecer um ápice de amor egoísta,
Ele não exibirá o seu rosto...
Deves repelir-te totalmente a ti mesmo e ao mundo,
e ser o inimigo do teu próprio ego...
Quando a fé reside no coração de uma pessoa
lá permanece até levar esse coração a Deus
e separa-se de tudo o que não valha a pena.» (Rumi)
